
Tudo sobre meu pai
Na infância de todos nós, quantas brincadeiras...
Correr, gritar , esconde aqui, acha lá
Risos, segredos, brinquedos
A vida se abrindo a cada novo jogar
Daquele tempo inocente lembro, sem nunca saber ao certo
Se a criança que eu era se perdeu nas exigências que o destino impôs
Quem poderia contar o que não foi escrito?
Quem poderá saber do outro que teria sido
Se fossem percorridos tantos diferentes caminhos...
Mas nos vestígios da breve infância
Ainda arde a fagulha do que fui e do que sou
Por trás das máscaras que a própria vida encaixou
Onde a criança de outrora ainda habita:
Acanhada, assustada, arisca
A se fingir distraída do choro enquanto procura o amor,
Aquele que nunca se acaba guardado no colo de quem se amou
E vejo que em uma mesma história imperioso se faz
Que das muitas mortes sentidas renasçam outras vidas
Da própria vida que um dia foi minha
Então vou, eu e minha criança, ela tem por volta de sete anos
Acanhada, assustada, arisca
Vamos juntas e não sabemos quem está a cuidar de quem
Porque ela é mais madura e já me viu morrer muitas vezes
E deixa que eu chore absurdos
E permite que eu diga que a desistência uma saída honrosa
E porque ela é madura, e já me viu renascer várias vezes,
Traz sorrisos, chega bem perto, seca minhas lágrimas, passa a mão pelo meu rosto
E me diz: pára com isso, vem brincar, te dou outra vida
Hoje a vida são tantas...
De verdades fugidias e do amor que se transmuta no ébrio instante
Por isso, outros modos experimento, novas maneiras,
Em busca, em busca, ao encontro da tépida vida primeira
Do amor
Incondicional, irrestrito, acolhedor
Amor eterno que a morte não levou