SOB A LONA - A FESTA

Não deu tempo de passar em casa, então Amanda resolveu ir direto, na verdade quando saiu de casa cedo estava preparada para isso, com duas horas de antecedência lá foi ela, uma bastaria mas para garantir preferiu antes, até porque o espetáculo quando é esperado, começa bem antes, foram ingressos disputados aos tapas – tapas com luvas de pelica porque são caros demais. Amanda estava feliz, afinal de contas conseguiria testemunhar o tão falado espetáculo. Finalmente !
As luzes diminuíram, a melodia suave começou, o cenário lentamente foi surgindo, montando delicadamente todo o contexto, os primeiros personagens já passeavam pelo palco, desavisados com pura marcação, com expressões inesquecíveis, eram velhos e vagabundos, menestréis com bobos da corte, o velho aceitando o convite da magia para mais uma vez ter a alegria de um menino, no meio de tantas cores e roupas, luzes, músicos...Amanda também aceitou o convite e embarcou na viagem....foi quando de repente... lá estava ela, a bailarina-cantora...que começou a descer uma pequena rampa que terminava no palco central, era uma bailarina estilizada do século XV, algo assim, toda de branco com peruca também da época, cachos brancos no rosto tão branco com um pó tão branco quanto de uma gueixa, suave em seus passos e gestos, meio anjo, meio mulher. Após alguns instantes Amanda se fixou naquela pequena e delicada criatura, foi quando a bailarina-cantora começou a cantar, neste exato momento Amanda teve a sensação de tudo parar, foi quando os seus sentidos se reuniram para ouvir com toda atenção do mundo aquela voz, meio anjo, meio sereia, tão familiar, ela cantava e fazia gestos delicados, poderosos, sua voz tão bela... afinal de contas era uma bailarina que viajou no tempo, passando por muitos lugares e épocas, chegou estilizada, só com a armação de arame da saia , toda branquinha, por baixo da armação um corpete e calça com rendas e babadinhos, seus cachos eram branquinhos e na cabeça duas antenas com brilho discreto, parece esquisita mas não era, tinha beleza e magia, mal abria a boca e a voz poderosa invadia o espaço e Amanda perplexa ouvia, cada nota, olhava o palco e sentia o coração bater mais rápido, a emoção transbordou numa experiência única ...Alegría Come un lampo di vita Alegria... Come un pazzo gridar Alegria Del delittuoso grido Bella ruggente pena, seren... Come la rabbia di amar Alegria... Come un assalto di gioia... imediatamente Amanda sentiu sua alma entrar em uma fantástica e maravilhosa festa, da qual não queria sair mais, uma sensação jamais sentida, teve certeza que aquele era o seu destino, perdido até então em alguma esquina, sim desejou ser a bailarina-cantora, sabia que seria tão feliz tão feliz que não caberia em si, imaginou a vida daquela criatura, vida que um dia foi dela talvez... Alegria Como la luz de la vida... Alegria Como um payaso que grita Alegria... Del estupendo grito De la tristeza loca Serena... Como la rabbia de amar... Alegria Como un asalto de felicidad. O espetáculo chegou ao fim e Amanda foi pra casa pela metade, a outra parte ficou com a cantora-bailarina, não deu para seguir inteira, aliás nunca mais Amanda seria a mesma porque sua outra metade encontrou sua verdadeira sina sob a lona branca e mágica, fazedora de sonhos, uma festa constante à disposição das almas que em breve partiria mais uma vez e seguiria por esse mundão de Deus.

Um comentário:

cris braga disse...

Amanda é um ser especial...eu sei...