A criatura que imagino ser mora comigo na beleza
No engano do pensamento que traz a calma divina
Do equilíbrio entre a razão e realidade

No entanto Deus é imperfeito
Porque nos fez à sua imagem e semelhança
E ela me acompanha, a me encarar
No espelho que me desentende
No reflexo desigual, a sombra
É a divina forma a se transformar
A forma de Deus é mutante e a imperfeição é o seu segredo
E para o sentido da obra ele fez o tempo
Porque a cada minuto meu olho está diferente


A criatura que eu gostaria de ser
Ainda estou a procura, ela é platônica
Às vezes me esquece, às vezes me diz que sou cansativa
No entando eu gosto dela
Mas sinceramente, aquela que eu gostaria de ser
É confusa e não me obedece
Mora comigo e repetidamente
Abandona, viaja, me larga,some,

A criatura que eu gostaria de ser
Arrasta com ela quem sou
Deixa-me,
Deixa-me solitária,
Sem ao menos bilhete e considerações
E dentro de mim o deserto, o desalento
A chuva fina, a noite fria

Deixa-me quem sou
Deixa-me, sem amarras
À mercê dos caprichos, de perigos
Dentro mim ninguém
Dentro de mim alguém
Uma criatura que desconheço
Dentro de mim
Eu?

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